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Tecnologia como seguro educacional

Tecnologia como seguro educacional
Betina Von Staa
fev. 12 - 7 min de leitura
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Até recentemente, qualquer tecnologia nova que surgisse na educação gerava uma série de questionamentos: Será que vale a pena investir nisso? O aluno aprende mais? O aluno aprende melhor? Será que meu professor vai saber usar? Vai querer usar? Vai usar com objetivos claros? Existe risco para a saúde física e mental do aluno? O aluno fica alienado? É possível interagir e expressar emoções por meio da tecnologia?

Neste contexto, surgiam diversas correntes contra e a favor da tecnologia, estudos para comprovar isso ou aquilo, leis para garantir o tempo máximo de EAD permitido nos diferentes níveis, idade certa para usar tecnologia, tempo de tela adequado para cada faixa etária, entre outros.

 

Faz sentido comparar ensino presencial com aprendizagem mediada por tecnologia?

Todos esses questionamentos têm um só foco: a comparação com o status quo: ensino presencial, provavelmente tradicional, centrado no professor. Estamos acostumados com um tipo educação, não queremos mudar, visto que mudar é difícil, trabalhoso e até doloroso, e por que mexer em algo que funciona tão bem há 200 anos? E lá vinha mais pesquisa para comparar resultados de aprendizagem em sala de aula ou mediada por tecnologia, mais questionamentos de investimentos, mais surpresa quando a Educação a Distância começa a agradar o público no país – e muito questionamento se isso pode ser bom.

Em paralelo, alguns argumentos tímidos para o investimento em tecnologia educacional nas escolas de Educação Básica (já usei todos em diferentes momentos!): “Precisamos falar a linguagem do aluno!”, “É essencial realizar letramento digital!”, “É necessário modernizar a educação!” ou “A aprendizagem híbrida promove o protagonismo do aluno!” – que acabam não justificando um investimento consistente e estratégico em tecnologia nas escolas, mas em atividades de cursos-extra que podem ser monetizadas, em momentos especiais no currículo uma vez por semana, por mês ou por ano para dizer que ocorrem, computadores compartilhados e alguns professores designados a cuidar da “tecnologia”, e todos os demais dispensados de ligar com essas geringonças complicadas.

É claro que existem muitas exceções para este cenário na Educação Básica no Brasil, mas o fato é que são poucas as escolas (públicas ou particulares) que chegaram ao distanciamento social obrigatório já tendo feito um investimento consistente, estratégico, de tempo e dinheiro em equipamentos, conteúdos e abordagens de ensino que envolvessem todo o seu corpo docente.

 

O que o vírus revelou sobre a necessidade de investir em segurança educacional

Eis que chegou o vírus e o distanciamento social repentino, e as escolas tiveram de envolver todo o corpo docente com alguma tecnologia para chegar aos alunos, desde que esses tivessem acesso a dispositivos para usar os recursos tecnológicos – o que nem sempre foi o caso.

Agora, o argumento para usar tecnologia mudou: passa a ser “segurança educacional”. Com acesso a tecnologia tanto por parte dos docentes quanto por parte dos alunos, é possível ensinar e aprender em qualquer circunstância. Vale ressaltar que não é o caso de pensarmos só em tecnologias como plataformas de videoconferência ou ambientes virtuais de aprendizagem (essenciais!), através das quais os professores têm contato e enviam materiais para os seus próprios alunos. Refiro-me, também, às tecnologias que disponibilizam conteúdos curriculares propriamente ditos em forma de videoaulas, breves textos, infográficos e animações, com recursos adaptativos que permitem ao aluno aprender o que precisa a qualquer hora, em qualquer lugar, conforme a sua necessidade. Refiro-me, também aos exercícios com correção automática.

Essas tecnologias protegem os alunos de ficar sem aprender o mínimo devido a simples resfriados que os levem a faltar aulas, devido a greves de caminhoneiros, devido a enchentes, tiroteios e até pandemias. Elas protegem os alunos de ficar sem aprender quando não existe professor disponível. Elas permitem aos alunos ir além e aprender o que desejam, mesmo que não haja professor para tal na sua região. Elas não substituem todas as funções do professor, mas são um enorme auxílio para os alunos que precisam de mais explicações, mais prática, mais reforço – ou que querem mais. Serão um auxílio enorme durante o distanciamento social e após a esperada volta às aulas presenciais, quando os alunos chegarão com níveis extremamente díspares de aprendizagem e de necessidade de revisão.

 

Tecnologia educacional é o elemento que melhor preenche o “nada” quando se fala de educação

 

Agora fica claro que aprender com tecnologia não pode ser comparado ao ensino presencial como nós conhecemos. No Ensino Superior, ela se firmou como educação que chega aonde as universidades presenciais não chegam ou para atender quem elas não atendem (por necessidades pessoais, preço ou outros motivos). Portanto, não há comparação. Ela chegou para competir com a pura ausência de educação para diferentes públicos. Na Educação Básica pós-pandemia, as tecnologias educacionais serão o melhor apoio possível para permitir alguma manutenção da aprendizagem de conteúdos curriculares e previsíveis, acelerando a aprendizagem ou a recuperação dos alunos que ficaram excluídos do sistema durante a pandemia.

Não podemos colocar todo o ônus de recuperar a aprendizagem dos nossos alunos sobre os ombros de professores. Eles estarão bastante ocupados em entender o estado emocional dos seus alunos, trazê-los de volta para a escola, dar-lhes apoio e motivá-los a seguir adiante. A tarefa de ensinar o dobro em um curto período de tempo seria simplesmente excessiva para os professores. Eles precisam contar com a segurança que a tecnologia educacional proporciona, além da possibilidade de acompanhar os alunos por meio dos dados que ela gera.

 

Qual sempre foi, é e será o papel da escola presencial?

 

A escola presencial corre algum risco de acabar quando descobrirem que também dá para aprender conteúdos curriculares bastante bem com tecnologia? Claro que não. Continuamos precisando de um lugar seguro para as crianças e jovens ficarem enquanto os adultos da sua casa trabalham, continuamos precisando de um local para crianças da mesma idade e com toda a sua riqueza de diferenças interagirem. Continuamos precisando que as crianças e jovens tenham contato com adultos que os motivem, que mostrem onde estão os desafios do mundo, que os instiguem a resolver problemas e buscar soluções, a se organizar para estudar. As escolas que conhecem o seu propósito serão simplesmente cada vez mais essenciais – e todos estamos com saudades dela!

 

Referência:

Para refletir mais sobre disrupção na educação:

Horn, Michael B. e Staker, Heather. Blended: Usando a inovação disruptiva para aprimorar a educação. Penso, Porto Alegre, 2015.

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