Educação do Futuro
Educação do Futuro
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
VOLTAR

Eles só querem o nosso dinheiro?

Eles só querem o nosso dinheiro?
Betina Von Staa
set. 1 - 5 min de leitura
020

 

Como avaliar a imensa oferta de produtos tecnológicos para a educação

 

Tenho que fazer uma confissão: trabalho com produtos de tecnologia educacional há mais de 20 anos. Isso significa que já recebi todo o tipo de olhar de desconfiança ao longo da carreira. Será que essa empresa que criou esse produto só quer lucrar às minhas custas? Será que essa tecnologia vai tirar emprego dos professores? Será que esse produto vai tirar a autonomia do professor? Será que ele vai empobrecer o processo de ensino e aprendizagem?

Essa desconfiança é legítima. Afinal, existem, sim, produtos que não agregam, e empresas que visam o lucro antes de promover oportunidades de educação enriquecedoras. Com anos de experiência, também posso afirmar com convicção que essas empresas não duram muito nesse mercado dificílimo que é o da Educação.

Mas qual é a contribuição que os produtos de tecnologia educacional podem trazer para a área da educação? Na verdade, as contribuições são inúmeras, e cabe aos educadores desenvolverem seus critérios próprios para avaliá-los.

Vamos começar comparando com o velho e bom material didático. Não é o mesmo material didático que serve para todas as escolas ou redes. É claro que em uma avaliação inicial, material didático não pode ter erro de linguagem nem erro conceitual. No entanto, além disso, são TANTOS os fatores que precisam ser considerados! Ele é atraente para os alunos? Tem uma linguagem acessível para o seu público? Oferece orientações aos professores que sejam factíveis? Interessantes? Adequadas ao público? Ele oferece o conteúdo curricular mínimo obrigatório ou permite ir além? Que atividades sugere para os alunos? Eles conseguem exercer seu protagonismo enquanto estudam, aprendem e se desenvolvem? Qual é a visão de sociedade que ele promove? Ufa! São tantas perguntas! Na verdade, professores e gestores já estão acostumados com esses questionamentos.

A questão complica um pouco quando começamos a olhar produtos tecnológicos pelo mesmo prisma. Não funciona. Explico por quê: A não ser que estejamos falando de conteúdos digitais para Educação a Distância, produtos tecnológicos não são materiais didáticos abrangentes que acompanham o aluno durante todo o período letivo em uma disciplina. Eles não têm uma função estruturante de um curso, mas sim, complementar ao processo educativo. E por que deveríamos dar atenção a eles, se são complementares? Exatamente por isso: eles permitem fazer o que não é possível em uma sala de aula convencional com materiais didáticos convencionais, contando exclusivamente com interação professor-aluno e aluno-aluno, por melhor que ela seja.

Quando avaliamos produtos tecnológicos, a principal pergunta que temos que fazer é: o que conseguimos fazer com esse produto que não conseguiríamos fazer sem ele? As respostas serão extremamente diversas! Produtos visualmente ricos permitem visualizar situações que não seriam possíveis em papel ou na lousa; atividades de correção automática permitem praticar conteúdos conhecidos e necessários no tempo do aluno, sem atrasar o tempo da turma; tecnologias de personalização da aprendizagem, adaptativas e baseadas em habilidades e competências permitem acompanhar turmas inteiras quando os alunos estão em diferentes níveis de aprendizagem. Atividades gamificadas mantém a atenção dos alunos sobre assuntos específicos. Tecnologias de compartilhamento e edição de conteúdos permitem trabalhar em grupos. Tecnologias de criação permitem aos alunos criar e se expressar. Em casos limite, existem tecnologias que podem ensinar conteúdos e habilidades para as quais não existem professores na escola, bairro ou município, tais como línguas estrangeiras, programação, música ou matemática e física avançadas, entre outros.

As tecnologias não precisam ser avaliadas por completude. Raramente (acho que nunca) elas se propõem a dar conta da formação integral do aluno. Esse papel é sempre da escola e do professor. Tem tecnologia que ajuda a memorizar. Tem tecnologia que ajuda a criar. Tem tecnologia que promove aprendizagem individual. Tem tecnologia que promove interação. Cada uma vai ser necessária em um momento diferente do processo de aprendizagem, e quem avalia isso são o professor e o gestor.

Algumas tecnologias são pagas e outras são gratuitas – e o gratuito nem sempre é mais rentável para a rede ou instituição de ensino. Geralmente, vale a pena pagar por produtos diferenciados, que você deseja que sejam adotados regularmente por todo o corpo docente, ou alunos de uma determinada série, de forma organizada, com acesso simples no próprio site da escola, com acompanhamento da atuação dos envolvidos no processo por meio de dados.

As possibilidades de complementar o processo de ensino e aprendizagem com tecnologia são infinitas. É importante saber avaliá-las. É importante que professores e gestores “que não são da área da tecnologia” avaliem e observem o quanto elas permitem fazer o que não seria possível sem elas, nem com os melhores professores. Com este olhar, é possível encontrar grandes aliados no mundo da tecnologia e dos produtos educacionais para resolvermos os desafios da educação que só têm aumentado nos últimos tempos.


Denunciar publicação
    020

    Indicados para você