Em 1963, Paulo Freire testou seu método de alfabetização de adultos na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte. Em 40 horas, alfabetizou 300 trabalhadores rurais que antes não sabiam ler nem escrever.
Para tamanho feito, Freire chegou na cidade com 15 universitários que ajudariam no processo de alfabetização.
Em uma primeira etapa de investigação, a equipe conversou com os trabalhadores para conhecer com eles quais eram as palavras do dia-a-dia. Levantaram cerca de 400 palavras. Este seria o repertório inicial para a decodificação fonética. Não usariam cartilhas de crianças com exemplos fora do contexto rural pernambucano para atrair o interesse de adultos analfabetos. Ouviram e respeitaram o que aqueles adultos traziam na bagagem.
A partir daí, os momentos de aprendizagem exploravam os significados de cada uma daquelas palavras, num processo de tematização e conversas. Durante as conversas em grupo, todos falavam de suas experiências. O que você quer dizer com essa palavra? Como ela é usada aqui? O repertório dos adultos era valorizado e reconhecido.
Chegava o momento final, com a problematização do conteúdo que estavam explorando juntos. Ali, tanto o facilitador da turma como os adultos em aprendizagem falavam sobre a transformação da realidade a partir de uma visão crítica sobre o que estavam discutindo.
Com o sucesso da experiência e o grande número de analfabetos no Brasil, um ano depois, João Goulart convidou Freire para aplicar sua metodologia na alfabetização de 5 milhões de adultos. Acontece que logo na sequência ao convite, começou o período da Ditadura no país. Freire foi preso e, na sequência, exilado.
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Patrícia Kalil
Jornalista, especialista em EAD pela Universidade de Washington