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Maria Montessori

Maria Montessori
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abr. 26 - 13 min de leitura
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Maria Montessori é nossa precursora. Ela resumiu sua vida em uma frase, sucintamente relembrada por seu neto, Mário Montessori Jr.: “Eu descobri a criança”. Ela é mundialmente conhecida por ter criado o método Montessori (chamado por ela de Pedagogia Científica) e ter revolucionado a forma como a criança é compreendida e respeitada. Em quase todos os países do mundo há escolas montessorianas e diversas iniciativas educacionais revolucionárias tiveram suas bases nas descobertas de Montessori. O recente documentário Educação Proibida figura diversas escolas montessorianas, entre aquelas que visita, e entrevista pelo menos cinco professores montessorianos.

Veja um exemplo de sala montessoriana:

Nascida em 1870, em Chiaravalle, Itália, Maria Montessori, não decidiu cedo que seria educadora. Na verdade, até o final de sua graduação, estava decidida a seguir outras carreiras. Quando adolescente, apaixonada por Matemática, escolheu cursar o ensino técnico de Engenharia e, com o apoio da mãe e as reticências do pai, foi uma de duas garotas em uma escola frequentada exclusivamente por meninos. Terminou o curso com sucesso, mas então já estava decidida, para alívio de seu pai, a abandonar a Engenharia. Apaixonara-se, no entanto, por Biologia, e decidira ser médica.

Novamente sua mãe, que tinha ares feministas e desejava que sua filha tivesse uma boa carreira, apoiou sua decisão. O pai não a impediu, mas não a apoiou no início. Houve necessidade de se conversar com o reitor da universidade para que uma mulher pudesse fazer o curso. Ao contrário do que se pensa, Montessori não foi a primeira mulher a se formar médica na Itália, mas a terceira. Isso, entretanto, não diminui em nada seu mérito. Foi a segunda mulher a exercer a profissão de médica na Itália e durante toda a graduação sofreu a segregação típica da sociedade da época.

Entre os problemas enfrentados no curso superior de Medicina, um dos piores eram as sessões de dissecação, que ela precisava fazer sozinha, à noite, pois não podia executá-las junto com os homens da sala. Em uma de suas experiências, em uma sala abafada, abria um cadáver circundada por esqueletos e partes humanas conservadas in vitro. O cheiro do corpo que estudava a deixou tonta, e Montessori olhou em volta, com terror. Segundo ela, neste momento quase desistiu de ser médica. Para respirar um pouco de ar, foi até uma das janelas da sala, e quando lá estava, avistou na rua uma senhora caminhando, provavelmente para casa, e pensou que desejava de fato ter uma profissão diferente do magistério – destino de todas as mulheres que não se conformavam em tomar conta de casa. Consta que retornou então ao cadáver que estudava e não pensou novamente em abandonar sua carreira.

Formada, em 10 de julho de 1896, Dr.ª Montessori foi trabalhar na Psiquiatria. Em diversas visitas a asilos, percebeu que o tratamento dispensado às crianças era desumano e, em sua busca por compreender as crianças e seu desenvolvimento, chegou aos escritos de Itard, acerca de Victor, o Menino Selvagem de Aveyron. Suas pesquisas sobre Itard a levaram a Séguin, estudioso das crianças portadoras de necessidades especiais e formas de tratá-las. Montessori encantou-se sobremaneira com as informações de Séguin sobre a sensibilidade sensorial da criança pequena e com os materiais que o pesquisador havia desenvolvido. Tão encantada que, manualmente, traduziu todo um livro de Séguin para o italiano, afim de absorvê-lo em sua completude. A partir do estudo da obra de Séguin surgiram muitos dos que seriam, mais tarde, os materiais de desenvolvimento, utilizados em salas montessorianas por todo o mundo.

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Aos vinte e oito anos, Montessori defendeu no Congresso Médico Nacional, em Turim, a tese de que a causa principal dos atrasos apresentados pelas crianças portadoras de distúrbios de comportamento e aprendizagem era o seu ambiente ausente de estímulos para o desenvolvimento adequado. Data deste congresso uma das histórias famosas da vida de Montessori. Conta-se que, tendo terminado sua exposição, um médico da plateia pediu a palavra e lhe perguntou: “Por que preocupa-se a senhora com estas crianças? Não sabe que elas não podem aprender?” – ao que Montessori respondeu: “Elas podem. São os senhores que não permitem”. No ano seguinte, ainda, apresentou, no Congresso Nacional de Pedagogia, uma visão social e econômica baseada em medidas educacionais. [1]

Montessori envolveu-se com a Liga para a Educação de Crianças com Retardo (por forte que hoje nos pareça o nome, à época não seria considerado assim) e lá conheceu o médico Giusseppe Montesano, com quem foi escolhida para a co-direção de uma nova instituição: a Escola Ortofrênica. Ortofrenia é o nome que se dava aos processos de tratamento das necessidades especiais apresentadas pelas crianças. Nessa instituição, o trabalho prioritário era o treinamento de professores. Porém, na sala ao lado daquela destinada ao treinamento, ficavam as crianças retiradas dos asilos por Montesano e Montessori, e que eram, ao mesmo tempo, alunas e objetos de pesquisa.

Nesta sala, Montessori observou que as crianças se interessavam por qualquer coisa que pudessem sentir. Lembrando-se bem do que aprendera com a obra de Séguin, Montessori empregou os materiais sensoriais do pesquisador, somados a algumas inovações suas. Por observação das crianças, Montessori aos poucos desenvolveu alterações nos materiais originais e criou diversos outros, novos.

Por meio da utilização desses materiais, as crianças internadas na escola aprenderam tanto e se desenvolveram tão bem, que Montessori sentiu-se confiante para inscrevê-las nos testes nacionais de educação da Itália. E nos exames, os alunos de Montessori, que enfrentavam as mais variadas dificuldades para aprender, se saíram melhor do que boa parte da população infantil italiana, que tinha a cognição perfeita e era educada em escolas normais.

Abismada diante do absurdo quadro à sua frente, Montessori perguntou-se o que havia de tão errado com as escolas tradicionais, para que crianças que teriam tudo para obterem resultados excelentes nos testes se saíssem com resultados piores do que os de suas crianças, para quem todas as atividades apresentavam imensos desafios. Assim, Montessori, que já havia cursado Pedagogia neste meio tempo, decidiu dedicar-se integralmente à Educação – a carreira que evitara desde menina.

Em 1901, Montessori deixou a Escola Ortofrênica e começou a estudar com maior profundidade a Pedagogia e a Antropologia, até que em 1904, assumiu o posto de professora da Escola de Pedagogia da Universidade de Roma, onde ficou até 1908.

Quase no fim de seu período como docente, surgiu a oportunidade pela qual esperava para trabalhar com crianças cujo desenvolvimento não apresentava nenhuma característica especial, para poder testar sua intuição acerca do aprendizado por meio dos sentidos. Em 1907, uma empreiteira associada ao governo de Roma construía um conjunto habitacional popular no bairro pobre de San Lorenzo, e percebeu a necessidade de se confinar as crianças em um espaço determinado, para que não sujassem, pichassem ou estragassem a obra comprada pelo poder público. Assim, Montessori é convidada para desenvolver o projeto educacional do local.

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Era para ser uma creche sem maiores pretensões, mas a Casa dei Bambini (literalmente Lar das Crianças) iria se mostrar o palco da maior revolução educacional do mundo. Na Casa, havia mobília de escritório cujas pernas Montessori mandara cortar, para adequar ao tamanho das crianças, e – trancados em um armário – ficavam os materiais sensoriais desenvolvidos por Montessori (mais tarde isso mudaria e os materiais seriam dispostos em prateleiras, à disposição dos pequenos). Quando houve materiais suficientes para que todas as crianças pudessem usá-los todo o tempo, elas se acalmaram e mostraram-se absolutamente concentradas, tranquilas e felizes. Depois de algum tempo na Casa, Montessori aceitou, sob pressão dos pais das crianças, ensiná-las a escrever por seu método e, para sua surpresa, aprenderam tão bem que, um dia, descobriram sozinhas que “sabiam escrever” e saíram pelos quarteirões de San Lorenzo escrevendo no chão e nas paredes.

Aos dos fenômenos educacionais acima, Montessori chamou “Normalização” (chamado hoje de Equilíbrio Natural da Criança, por nós) e “Explosão da Escrita”. As duas descobertas a deixaram boquiaberta e a levaram para as capas dos jornais e revistas de todo o mundo. Com dois anos de Casa, em 1909, Montessori passou vinte e um dias em uma fazenda nas proximidades de Roma e lá, escreveu O Método da Pedagogia Científica Aplicado à Educação Infantil no Lar das Crianças. [2] Obra de cunho absolutamente acadêmico e analítico, na qual Montessori expõe, pela primeira vez, seu método completo. Em português o livro se chama Pedagogia Científica e em inglês foi traduzido para o termo que se eternizaria, entitulado O Método Montessori. Entre outros elogios, Anne Sullivan, professora de Helen Keller, disse que Pedagogia Científica era “um emocionante documento humano, um trabalho científico, uma profecia e uma luz a todos aqueles cujo trabalho seja educar crianças pequenas” [4].

Daí em diante, seguem-se viagens pelo mundo, nas quais Montessori ministra cursos e palestras sobre seu método, espalhando por todos os lugares as descobertas que fizera, abrindo escolas, treinando professores, escrevendo livros e publicando artigos e entrevistas por onde passava.

Em 1912, foi para os Estados Unidos, para lecionar em Nova Iorque e Los Angeles. Em 1915, apresentou na Panama Pacific International Exposition uma sala montessoriana com paredes de vidro, dentro da qual crianças e uma professora trabalhavam tranquilamente. A sala ganhou duas medalhas de ouro da feira, onde eram expostas diversas invenções e descobertas do mundo todo.

Em 1916 foi para Barcelona e manteve-se em viagens entre Estados Unidos, Barcelona e Londres até 1918. Depois deste ano, não retornou mais aos Estados Unidos. Ao que se tem registro, no fim dos anos 1920, lecionava em Londres e continuava viajando.

Maria Montessori em 1913

Em 1929, no primeiro Congresso Montessori Internacional, em Elsionre, Dinamarca, Montessori e seu filho, Mário, fundaram a Associação Montessori Internacional. O objetivo da sociedade era vistoriar as atividades de escolas e sociedades por todo o mundo e supervisionar o treinamento de professores. Entre os patrocinadores iniciais desta Associação encontravam-se Sigmund Freud, Jean Piaget e Rabindranath Tagore – o último, excelente poeta indiano e Prêmio Nobel de Literatura.

Na Itália, seu método prosperava e Mussolini desejava absorvê-la para seu regime, dizendo até que “A Itália teve três grandes MMussolini, Marconi e Montessori”. Entretanto, ao mesmo tempo que desejava tê-la a seu lado, Mussolini diminuía a liberdade inerente às escolas montessorianas. Isso fez com que a educadora deixasse seu país natal em 1934 e todas as escolas com seu método fossem fechadas lá – o mesmo aconteceu na Alemanha hitlerista, na União Soviética e na China ditatorial. Nessa fuga, foi para Barcelona, mas em dois anos, 1936, estourou a Guerra Civil espanhola e Montessori fugiu de lá também, dessa vez para a Holanda.

Permaneceu na Holanda durante algum tempo, até que em 1939 foi chamada para dar um curso na Índia. Ela foi, mas não pode voltar como previa. Ficou, como prisioneira do exército britânico, quando estourou a Segunda Grande Guerra. Seu filho foi enviado para um campo de internação forçada até que no aniversário de setenta anos de Montessori, no ano seguinte, foi solto, a pedido de Montessori, por uma autoridade indiana. A educadora ainda teve de ficar na Índia por sete anos, no entanto, até 1946, quando pôde voltar.

Em 1947, com setenta e seis anos, Montessori falou para a UNESCO sobre “Educação e Paz” e em 1949 recebeu a primeira de três indicações ao Prêmio Nobel da Paz. Sua última atividade registrada foi em 1951, com oitenta e um anos, quando participou do 9º Congresso Montessori Internacional. Em 1952, na Holanda, morreu de hemorragia cerebral, antes do octogésimo segundo aniversário, na companhia de Mário Montessori, seu filho, a quem deixou o legado de seu trabalho.

Abaixo, veja a linha do tempo com os principais livros publicados por Maria Montessori:

linha do tempo

 

Para a composição deste resumo biográfico, contamos com as informações cedidas durante o curso de formação do Centro de Educação Montessori de São Paulo. Também, utilizamos as seguintes páginas virtuais:

[1] Montessori Austrália – http://montessori.org.au/montessori/biography.htm

[2] Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Maria_Montessori

[3] Montessori Centenary: http://www.montessoricentenary.org/photos/

[4] Discurso de Sullivan na Panama Pacific International Exposition: http://www.afb.org/asm/1915speech.asp

Para saber mais sobre a vida e a obra de Maria Montessori:

Filmes:

Maria Montessori: Uma Vida dedicada às Crianças

Grandes Educadores – Maria Montessori

Livros:

Maria Montessori – Coleção Educadores, publicado pelo Ministério da Educação

Maria Montessori: Her Life and Work, de E.M. Standing

Maria Montessori: A Biography, de Rita Kramer

 

Fonte: https://larmontessori.com/maria-montessori/


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